A ORIGEM DO DIA NACIONAL DO SAMBA

A ORIGEM DO DIA NACIONAL DO SAMBA Reprodução

Por André Carvalho

No dia 19 de novembro de 1962, o deputado estadual Anésio Frota Aguiar apresentou um projeto de lei à Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara propondo que no dia 2 de dezembro fosse instituído o Dia do Samba.

A escolha de tal data, de acordo com o projeto, foi uma sugestão do então presidente da Associação Brasileira das Escolas de Samba, Servan Heitor de Carvalho, argumentando que naquele dia, à época, “começavam, por determinação legal, os ensaios das referidas escolas, visando o carnaval do ano seguinte”.

Poucos dias depois, de 28 de novembro a 2 de dezembro, foi celebrado no Rio de Janeiro o I Congresso Nacional do Samba, que, em seu encerramento, teve redigida a Carta do Samba. O documento, cuja redação coube ao etnólogo, folclorista e historiador Edison Carneiro, mencionava em sua sexta página a sanção do projeto de lei de Frota Aguiar que oficializaria a data magna do samba no dia 2 de dezembro.

O projeto de lei, porém, foi vetado pelo então governador da Guanabara Carlos Lacerda e só se tornou lei em 7 de agosto de 1964, com a derrubada do veto pelos deputados guanabarenses.

Nesse ínterim, em 3 outubro de 1963, ciente da deliberação do Congresso Nacional do Samba e da proposta de Frota Aguiar, o vereador de Salvador Luiz Monteiro da Costa, apresentou à Câmara de Vereadores um projeto de lei similar ao apresentado no Rio, que também propunha que o 2 de dezembro se tornasse o Dia do Samba.

Aprovada de forma célere, em 18 de novembro, a lei cita tanto o Congresso quanto a Carta do Samba, o que faz com que a instituição da data em Salvador também derive da sugestão de Servan Heitor de Carvalho. Com efeito, a lei soteropolitana, promulgada pelo prefeito Virgildásio de Senna diz, em seu artigo primeiro, que a data “marcará, anualmente, início oficial do ciclo de festas populares da Cidade do Salvador”.

A lei de Salvador também previa que especificamente naquele ano de 1963 o Dia do Samba fosse celebrado em homenagem a Ary Barroso. Isso gerou a lenda, muito difundida até os dias de hoje, sobretudo em terras baianas, de que o Dia do Samba seria em homenagem à data em que o compositor mineiro visitou a Bahia pela primeira vez, em 2 de dezembro de 1940.

E, se em 1963, a cidade de Salvador celebrou o Dia do Samba de forma oficial, o Rio de Janeiro fez o mesmo, embora ainda aguardando a promulgação da lei, que só viria no ano seguinte.

Naquele dia, encerrava-se na capital fluminense o II Congresso Nacional do Samba, que recomendava que em tal data o samba fosse “festejado com o repicar de tamborins, com o ‘roncar’ das cuícas e com uma alvorada de 21 batidas no surdo”.

Apesar da disputa pela primazia da instituição da data entre baianos e cariocas, fato é que é a cidade de Santos que tem a honra de promover há mais tempo, de forma ininterrupta, a celebração do Dia do Samba, que, com os anos, passou a ser chamado de Dia Nacional do Samba.

Segundo o historiador santista J. Muniz Jr., 84, testemunha ocular dos dois Congressos do Samba e autor de diversos livros sobre carnaval e samba, a os festejos na cidade litorânea paulista ocorrem desde 1963. Sempre sob sua batuta.

Para efeito de comparação, a festa do Dia do Samba em Salvador vem sendo realizada de forma sistemática desde 1972. No Rio, os festejos são ainda mais recentes: depois de muitos anos sem comemorações oficiais, a celebração foi retomada em 1996, com o Trem do Samba (que por sua vez tem origem com o Pagode do Trem, realizado pela primeira vez em 1991).

“A única cidade que ainda comemora o Dia do Samba de acordo com o boletim do II Congresso Nacional do Samba é Santos. Ninguém mais seguiu a determinação. E nós já estamos há 55 anos nessa empreitada”, afirma, orgulhoso, Muniz Jr.

*Texto publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo, em 2 de dezembro de 2018

 

 
 
 
Visto 2187 vezes Última modificação em Quarta, 02 Dezembro 2020 22:21
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